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  • Retrospectivamente, os 31 anos desde o assassinato do arquiduque austríaco em Sarajevo até a rendição incondicional do Japão devem parecer uma era de devastação comparável à Guerra dos Trinta Anos do século XVII na história alemã. E Sarajevo — a primeira Sarajevo - certamente assinalou o início de uma era geral de catástrofe e crise nos assuntos do mundo. Apesar disso, na memória das gerações pós-1945, a "Guerra dos Trinta e Um Anos" não deixou atrás de si o mesmo tipo de memória que sua antecessora mais localizada do século XVII.
  • Para os que a viveram, foi experimentada como duas guerras distintas, embora relacionadas, separadas por um período "entreguerras" sem francas hostilidades, que vai de treze anos para o Japão e a 23 anos para os EUA. Contudo, se dá também porque cada uma dessas guerras teve seu próprio caráter e perfil históricos. Ambas foram episódios de carnificina sem paralelos, deixando atrás as imagens de pesadelo tecnológico que rondaram as noites e dias da geração seguinte: gás venenoso e bombardeio aéreo após 1914, a nuvem do cogumelo da destruição nuclear após 1945.
  • Ambas guerras acabaram em colapso e revolução social em grandes regiões da Europa e Ásia. Ambas deixaram os beligerantes exaustos e enfraquecidos, a não ser os EUA, que saíram das duas guerras incólumes e enriquecidos, como os senhores económicos do mundo. E, no entanto, como são impressionantes as diferenças!
  • A Primeira Guerra Mundial não resolveu nada. As esperanças que gerou — de um mundo pacífico e democrático de Estados-nação sob a Liga das Nações; de um retorno à economia mundial de 1913; mesmo (entre os que saudaram a Revolução Russa) de capitalismo mundial derrubado dentro de anos ou meses por um levante dos oprimidos — logo foram frustradas. O passado estava fora de alcance, o futuro fora adiado, o presente era amargo, a não ser por uns poucos anos passageiros em meados da década de 1920.
  • A Segunda Guerra Mundial na verdade trouxe soluções, pelo menos por décadas. Os impressionantes problemas sociais e económicos do capitalismo na Era da Catástrofe aparentemente desapareceram. A economia do mundo ocidental entrou em sua Era de Ouro; a democracia política ocidental, apoiada por uma extraordinária melhora na vida material, ficou estável; baniu-se a guerra para o Terceiro Mundo. Por outro lado, até mesmo a revolução pareceu ter encontrado seu caminho para a frente.
  • Com a Segunda Guerra Mundial, os velhos impérios coloniais desapareceram ou logo estariam destinados a desaparecer. Um consórcio de Estados comunistas, organizado em torno da União Soviética, agora transformada em superpotência, parecia disposto a competir na corrida pelo crescimento económico com o Ocidente. Isso se revelou uma ilusão, mas, só na década de 1960 essa ilusão começou a desvanecer-se.
  • Com a Segunda Guerra Mundial, mesmo o cenário internacional se estabilizou, embora não parecesse. Ao contrário da Grande Guerra, os ex-inimigos - Alemanha e Japão - se reintegraram na economia mundial (ocidental), e os novos inimigos — os EUA e a URSS — jamais foram realmente às vias de facto.
  • Mesmo as revoluções que encerraram as duas guerras foram bastante diferentes. As do pós-Primeira Guerra Mundial tinham raízes numa repulsa ao que a maioria das pessoas que as viveram encarava cada vez mais como uma matança sem sentido. Tinham sido revoluções contra a guerra.
  • As revoluções posteriores à Segunda Guerra Mundial surgiram da participação popular num conflito mundial contra inimigos - Alemanha, Japão, mais generalizadamente o imperialismo - que, embora terrível, os que dele participaram julgavam justo. E no entanto, como as duas guerras mundiais, os dois tipos de revolução pós-guerra podem ser vistos na perspectiva do historiador como um único processo.