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  • Ora, em 1917, os dois campos aproximam-se do ponto de ruptura. Daí a importância capital do ano de 1917. É o ano ao longo do qual a guerra poderia ter tomado outro curso, talvez mesmo acabar: durava há já três anos. Acima de tudo, 1917 sucede ao ano de Verdum, 1916, em que a Alemanha e a França se esgotaram sem que nenhuma delas tivesse adquirido qualquer vantagem. Em 1917, diversos países aproximam-se do ponto crítico, em que tudo se torna possível, a capitulação, a paz branca*. É o que sucede, em primeiro lugar, com a Rússia, mas também com a França. É o ponto de viragem da guerra.
  • A revolução russa modifica bruscamente a relação de forças em detrimento dos aliados, se bem que o primeiro governo russo tenha declarado a sua intenção de prosseguir a guerra e de se manter fiel aos compromissos internacionais da Rússia. Mas a revolução cedo desorganiza a máquina de guerra, enfraquece a vontade de guerra.
  • É normal que a Rússia tenha sido a primeira a ceder: era o país que tinha pago o mais pesado tributo em homens, que sofrera as maiores perdas. A Rússia estava mal preparada para a guerra. A sua organização era defeituosa, o material insuficiente, a intendência quase inexistente. Durante três anos, os soldados russos colmataram estas carências à força de coragem, mas o cansaço acabou por vencê-los.
  • A primeira revolução russa, seguida da segunda, em Outubro-Novembro de 1917, provoca duas ordens de consequências para a história da guerra.
  • São, primeiro, consequências militares. Um dos principais beligerantes está fora de jogo e o grande estado-maior alemão aproveita o ensejo para deslocar para o oeste a quase totalidade das suas forças. As divisões do Leste atravessam a Alemanha e são transferidas para a frente ocidental. Ora, Franceses e Ingleses mal conseguiam suster o avanço alemão.
  • São, em seguida, consequências políticas. A revolução russa desperta sentimentos até aí contidos e questiona a vontade de fazer a guerra até ao fim. Em França, sobretudo em Itália, onde uma parte da opinão pública só entrara na guerra às arrecuas, acordam os fermentos de divisão. A ação dessas forças centrífugas, conjugada com o desgaste físico e nervoso, explica que o ano de 1917 seja o ano difícil: greves nas fábricas de armamento em França, motins que alastram nas unidades da frente. Alguns políticos preconizam a abertura de negociações para uma paz branca.
  • Porém, uma reviravolta da situação em Novembro de 1917 faz com que em França — a França é a peça fulcral da coligação - triunfe a corrente favorável a que se trave a guerra até ao fim: a chegada de Clemenceau à presidência do conselho e a formação de um governo que tem como programa fazer a guerra até ao fim põem fim às negociações, esmagam o derrotismo; citam-se no tribunal supremo os políticos suspeitos de sonharem com uma paz branca.
  • Em 1918, a situação inverte-se. O fortalecimento do moral, a nomeação de um comandante interaliado, que coordena o conjunto das forças militares do Ocidente, a intervenção dos Americanos. Finalmente, é a vitória, o armistício de 11 de Novembro de 1918.